Esta viagem é para que teus olhos me apontem caminhos e que neles eu saiba me perder. Para que eu sinta a suntuosidade do coração quando não mais puder respirar. Para que o éter das tuas palavras atravessem meus pulmões acesos e deles eu construa um imenso buraco luminoso que apague o incêndio atrás das noites. “Luzimos de um para o outro nas trevas”.
Esta viagem é para que eu possa me afogar no mar dos teus poros vulcânicos. Para poder morrer no vermelho do teu mel envenenado. Para ruir a pedra de Sísifo e dela construir paisagens, muralhas de silêncio sobre o grande lugar anatômico em que pulsas como um lençol lavrado. “Tu és o nó de sangue que me sufoca”.
Esta viagem é para não pensar no esquecimento. Para que nunca nos livremos desta bolha em que estamos submersos. Para que o teu amor me ensine a dentição e, dele, eu aprenda a escrever a ardente melancolia da idade. “És uma faca cravada na minha vida secreta”.
Hoje, sou esta casabsoluta, aprendi a imaginar meus próprios campos de rosas. Meus poemas não saem do poder da loucura. Escrevo com base inconcreta de criação. Penso com delicadeza, imagino com ferocidade. “Beijarei em ti minha enorme vida e em cada espasmo eu morrerei contigo”.